quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Disciplina, limite na medida certa...

Há uma história que sempre desperta o interesse de pais e educadores porque é ao mesmo tempo muito bem-humorada e realista:
Dois meninos de cinco anos estão numa espaçosa área de lazer. Não há brinquedos por perto. Um deles é magro e alto. O outro é gordo e baixo. Naturalmente, resolvem brincar.
O magro propõe:
“Vamos brincar à apanhada, e tu é que apanhas!”
E já sai em tal disparada que o gordo, com seus passos lentos e pesados, tem dificuldades de acompanhar. Quando este percebe a distância entre os dois aumentando cada vez mais, toma consciência de que não conseguirá alcançar o outro tão cedo. Então pára, estica o braço e, apontando com o indicador, grita:
“Aí não vale!”
O magro imediatamente pára, mesmo sabendo que não tinha sido combinado que ali não valeria.

“Por que o magro parou?”

“Para continuar brincando! Se o magro continuar correndo, a brincadeira acaba, não é?”

O magro volta até o gordo com os ombros meio caídos, pois sabe que agora é a vez daquele propor outra brincadeira. O gordo, vendo o magro bem próximo, diz:

“É luta livre!”
E já avança no magro, dá-lhe uma “gravata”, derruba-o e aperta o pescoço do menino, que, à beira do desmaio, dá umas palmadinhas no braço do gordo em sinal de que está se rendendo.

“Por que o gordo pára de enforcar o magro?”
“Para continuar a brincadeira!”

“E também porque com morto não se brinca!”
As crianças sabem, intuitivamente, que a brincadeira é um tipo de relacionamento em que um depende do outro. Para continuar a brincar é necessário que aceitem, nessa experiência de sociedade que elas mesmas criaram uma série de regras:
  • Cada criança escolhe a brincadeira na qual tem melhor desempenho, pois sempre quer ganhar.
  • Cada criança dá o máximo de si e, se alguém faz “corpo mole”, isso significa que não está levando a brincadeira a sério.
  • Uma criança não pode exigir da outra mais que esta pode fazer; portanto, o limite é estabelecido por aquele que menos habilidades têm para determinada brincadeira.
  • Quando uma criança diz que não agüenta mais, a outra é obrigada a parar, por mais que queira continuar brincando.
  • Se um escolhe uma primeira brincadeira, o outro tem direito a escolher a segunda.
O que não aparece na história, mas pode acontecer, é que, quando uma criança desrespeita o limite da outra, esta geralmente solta um grunhido (“Ah, é assim?”) e parte para briga. Portanto, toda brincadeira pode rapidamente transformar-se em conflito, e os adultos terão muitas dificuldades para identificar quem começou a briga.

Se as crianças aceitam os limites intrínsecos à convivência em uma brincadeira, é porque sabem que não podem brincar fazendo tudo o que têm vontade. Precisam aceitar a convivência na sociedade com o outro.
As crianças aprendem a comportar-se em sociedade ao conviver com outras pessoas, principalmente com os próprios pais. A maioria dos comportamentos infantis é aprendida por meio de imitação, da experimentação e da invenção.

Quando os pais permitem que os filhos, por menores que sejam, façam tudo o que desejam, não estão  ensinando noções do que podem ou não podem fazer. Os pais usam diversos argumentos para isso: “eles não sabem o que estão fazendo”; “são muito pequenos para aprender”; “vamos ensinar quando forem maiores”; “sabemos que não devemos deixar... mas é tão engraçadinho” etc.
É preciso lembrar que uma criança, quando faz algo pela primeira vez, sempre olha em volta para ver se agradou alguém. Se agradou, repete o comportamento, pois entende que agrado é aprovação, e ela não tem condições de avaliar a adequação do seu gesto.
Portanto, cada vez que os pais aceitam uma contrariedade, um desrespeito, uma quebra de limites, estão fazendo com que seus filhos não compreendam, e rompam o limite natural para seu comportamento em família e em sociedade. Deixar que as situações transcorram sem uma intervenção clara é como se, na brincadeira entre o gordo e o magro, o filho, mesmo ouvindo “aí não vale!” , continuasse correndo; ou como se os pais pedissem para o filho parar, mas este continuasse a enforcá-los. Apesar de ser fisicamente mais fortes, os pais que não reagem à quebra de limites dos filhos acabam permitindo que estes, muito mais fracos, os maltratem, invertendo a ordem natural de que o mais fraco deve respeitar o mais forte.

A força dos pais está em transmitir aos filhos a diferença entre o que é aceitável ou não, adequado ou não, entre o que é essencial e supérfluo, e assim por diante. Pedir um brinquedo é aceitável, mas quebrar o brinquedo meia hora depois de ganha-lo e pedir outro é inaceitável. É importante estabelecer limites bem cedo e de maneira bastante clara porque, mais tarde, será preciso dizer ao adolescente de quinze anos que sair para dar uma volta com o carro do pai não é permitido, e ponto final.

O estudo é essencial; portanto, os filhos têm obrigação de estudar. Caso não o façam, terão sempre que arcar com as conseqüências de sua indisciplina, que deverão ser previamente estabelecidas pelos pais. Só poderão brincar depois de estudar, por exemplo. No que é essencial, os pais deverão dedicar mais tempo para acompanhar de perto se o combinado está sendo levado em consideração. Os filhos precisam entender que têm a responsabilidade de estudar e que seus pais os estão ajudando a cumprir um dever que faz parte da “brincadeira” da vida.

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